24 Março 2022
"A degradação das comunidades onde o esgoto corre a céu aberto é um dos impactos mais chocantes do descaso com que o saneamento básico é tratado no Brasil", escreve Thiago Kern Copetti, jornalista especializado em economia, agronegócio e relações internacionais, em artigo publicado por EcoDebate, 23-03-2022.
O Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, é uma data também para lembrar que o ciclo deste insumo vital à vida inclui a forma como tratamos o esgoto. É o saneamento adequado que garante o retorno não poluente ao meio ambiente e mais saúde a todos. Serviço básico que, em falta, retira retirada a dignidade especialmente de famílias moradoras de regiões carentes, as maiores vítimas do descaso.
“O gestor público deveria ter entre suas prioridades tratar o esgoto adequadamente. Ofertar água potável e devolvê-la ao ambiente de forma não poluente. Um sistema de saneamento básico abarca tudo isso e atende plenamente a sigla do momento: ESG. É ambiental, social e depende de boa governança”, explica Yves Besse, presidente da Cristalina.
A degradação das comunidades onde o esgoto corre a céu aberto é um dos impactos mais chocantes do descaso com que o saneamento básico é tratado no Brasil. É causa de milhares de mortes de crianças, especialmente, mas também de graves doenças em adolescentes e adultos, de gastos com saúde que não seriam necessários, de prejuízos ao desenvolvimento educacional adequado e para a economia como um todo.
Até mesmo a produtividade aumentaria e as faltas ao trabalho poderiam ser reduzidas se esse sistema funcionasse minimamente bem. O Brasil teria menos adultos com problemas gastrointestinais e outras doenças oriundas do consumo de água sem tratamento ou da convivência com o esgoto na porta de casa — e menos pais faltando o serviço pela necessidade de cuidar filhos com diarreia e outras moléstias mais graves. A captação, o tratamento e o fornecimento de água potável assim como a coleta, tratamento e devolução ao meio natural do esgoto é um sistema único e deve ser tratado de forma adequada em todas as fases.
“A falta de saneamento básico é um claro exemplo da forma como a água é cuidada no Brasil, já que o sistema de saneamento é como uma sinfonia entre todas as partes relacionadas e basta uma delas estar desafinada para prejudicar todas as demais”, compara Daniela Pinho, diretora de finanças sustentáveis da Cristalina.
Os afetados pelo sistema precário de saneamento e esgoto são muitos. O Instituto Trata Brasil (ITB) aponta que quase 35 milhões de brasileiros vivem em locais sem acesso à água tratada, 100 milhões não têm acesso à coleta de esgoto e somente 49% dos esgotos no país são tratados, segundo dados fornecidos pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) relativos a 2019. Negligência que avança sobre o sistema de saúde.
Ainda de acordo com o ITB, com dados do Datasus, em 2019 foram 273.403 internações por doenças de veiculação hídrica – um aumento de 30 mil hospitalizações comparativamente ao ano anterior. A incidência foi de 13,01 casos por 10 mil habitantes gerando gastos ao país de R$ 108 milhões.
“De um lado estão gestores públicos que deveriam dar atenção a tudo isso, e não o fazem. Do outro, os pró-saneamento, aqueles que são a favor da melhoria da saúde pública, do combate à mortalidade infantil, da produtividade no trabalho e da dignidade de uma vida sem falta de água e sem poluição dos rios, lagos e praias”, compara o presidente da Cristalina.
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O descaso com que o saneamento básico é tratado no Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU